Tudo sobre as últimas palestras do Núcleo Bem Nascer

02/11/2014
Vanessa divulga para outras mulheres sua experiência de parto.

O Núcleo Bem Nascer promoveu mais uma edição do Curso de Preparação para o Parto Humanizado, dia dia 29 de outubro, na Associação Médica. Desta vez com duas palestras: Dra. Soraya Nogueira falou sobre os ‘Cuidados com o Bebê’ e Dr. Renato Janone, abordou o tema  A HORA H, que no momento da palestra chamou de ‘HORA P’. O evento acontece mensalmente na Associação Médica de Minas Gerais e teve início, como de hábito, com o relato de parto de uma das pacientes do Núcleo Bem Nascer. Desta vez, relatou o parto Fabiane.

MAIS MULHER

“Eu perguntei ao Dr. Janone, por que você quer que eu fale, se meu parto não foi natural? Ouço muitos relatos de parto normal, cria-se um romantismo idealizado do que seria. O meu parto foi sofrido. Dr. Renato disse que é bom para mostrar que é assim. Não imaginava que seria tão difícil! Pensava, se não suportar, peço anestesia e  pronto. Comecei a entrar em trabalho de parto com 38 semanas. Vai ser hoje! Foi assim até 41 semanas. Uma eternidade. O tempo não passa. Fui ao Sofia Feldman participar das terapias integrativas, foi sensacional, melhou muito meu sono! Dia seguinte, última caminhada, chá de gengibre e sexo, tudo para estimular. Aí, eu me senti estranha. O tampão descolou. Tinha vontade de dormir, pensava, preciso descansar. As dores aumentaram. Chamei a doula, ficou mais fácil de suportar. Eu dormia entre uma contração e outra. Meu trabalho de parto durou de 15 a 17 horas. A doula fazia massagem na lombar, a dor sumia. Pensava, vou agüentar sem anestesia. Entrei no chuveiro e fiquei lá por um bom tempo. 1 em 1 minuto. Pedi anestesia e fomos para o bloco. Não fiz opção pela suíte ppp, teria qualidade melhor. Fui anestesiada e achei a melhor coisa do mundo. Algumas  horas de descanso. Comi muito pão de queijo e comi chocolate. Bebi muita água, várias horas de trabalho de parto, suando, cansada, como não beber água?

O que é parto humanizado? Primeiro, é poder comer e beber água. Segundo, ter participar das decisões. Chegou a um ponto que não raciocinava mais. Entrei no período expulsivo, a parte mais difícil. Durante a gestação fiz caminhada, yoga, acupuntura, Reik e 16 espetáculos.

Rezei muito. Chorei muito. Comecei a fazer muita força! Lembrei das novelas. Pensei em desistir, não estou agüentando. Saiu do meu controle aquilo, começou a ir sozinho. Pedi, quero anestesia. A analgesia tira um pouco  o puxo, durou uma eternidade, cerca de uma hora e quarenta minutos. A pediatra já estava na sala. Chegou a hora! Senti a cabeça saindo. Na hora que saiu, foi a melhor coisa do mundo. É lindo! Meu marido estava chorando. Inacreditável! Olho o Heitor, não acredito que ele nasceu. Heitor nasceu com 3.735 kg. Deu muita vontade de passar por isto de novo. É muito gostoso. Que toda mulher que deseja consiga viver isto. Foi o momento  em que me senti mais mulher”.

PEDIATRIA HUMANIZADA

Dra.Soraya Nogueira é parceria de Dr. Marco Aurélio do Núcleo Bem Nascer desde a década de 80. Desde então, recebe as crianças com carinho e respeito por ela e pela família. A pediatra iniciou sua palestra parabenizando o Núcleo Bem Nascer pela iniciativa do curso, “que dá informações e proporciona troca de experiências”.

“Quando o bebê está no útero capta todos os sentimentos da mãe, esta vivência repercute mais tarde, quando adultos” – explicou – “este momento fica marcado para a toda a vida. Para uma boa gestação é preciso um pré-natal adequado, alimentação saudável, atividade física e conexão com o bebê. Acho importante também a participação do pai na gestação e no trabalho de parto”.

Ela lembrou que o parto é a maior mudança: “o bebê passa de um ambiente  caloroso, onde recebia tudo da mãe, para voltar para seu próprio organismo, que tem que funcionar sozinho. Deve-se oferecer ambiência com pouco barulho, pouca luz, menos intervenção; respeitar os desejos da mãe”.

Papel do pediatra

Segundo Soraya, é papel do pediatra favorecer o contato pele a pele entre bebê e mãe, fortalecendo o vínculo. “Outro procedimento importante é o clampeamento tardio de cordão umbilical; deixar o cordão parar de bater. Postergar procedimentos de rotina para uma hora depois do nascimento. Fortalecer o aleitamento materno na primeira hora, que estimula a ocitocina, gera menos sangramento e o leite desce mais rápido” - esclareceu.

“Após o nascimento, alguns procedimentos são feitos de rotina, como pesar e medir. Algumas maternidades fazem estes procedimentos no local onde foi realizado o parto. É administrada a vitamina K, uma substância que participa do processo de coagulação; evita no bebê sangramento do cordão umbilical. No Brasil é injetável,  em alguns países é oral. O colírio, para prevenir conjuntivite neonatal também é feito de rotina em todas as maternidades”.  

Para ela, o mais importante é o acolhimento e a proteção. “O nenê é totalmente dependente, tem que ter as necessidades físicas e emocionais atendidas. Nos primeiros dias, procure um ambiente tranqüilo, evite muitas visitas, para que esta transição não seja brusca”, aconselhou.

Amamentação

“É importante estabelecer uma rotina, hora do banho, das mamadas. Para prevenir cólicas, é bom fazer massagens no bebê. Dê leite materno exclusivo até 6 meses, não precisa de mais nada. A primeira semana é mais complicada, é bom contar com apoio de profissional que cuide da mãe. Três coisas ajudam a mãe na amamentação: mãe querer, vencer a primeira semana e  ter alguém para dar suporte.Nada pode substituir o olhar amoroso, amamentando seu filho você o constrói biologicamente, psicologicamente e espiritualmente”.

“O bebê não nasce e não mama logo, com menos de 15 minutos não vão querer mamar. Tem que cair a ficha que nasceu.  O primeiro leite é o colostro,. O colostro é a imunidade passando para o bebê. A produção do leite tem a ver com o estado emocional da mãe. Quando a mãe passa pelo processo do parto, com 24, 48 horas já tem o leite. Não tem leite? Tem a ver com o emocional, se tem glândulas, tem leite”, concluiu.

O umbigo

O umbigo costuma cair entre 5 a 10 dias, mas pode demorar até um mês. É normal ter um pouco de sangramento. É preciso observar se há alguma secreção  amarelada ou vermelhidão ao redor do umbigo. “Culturalmente, ainda se usa moedas sobre o umbigo e teias de aranha”. Dra. Soraya falou sobre os exames feitos após o nascimento: testes do pezinho, do olhinho, da orelhinha e do coraçãozinho.

Dor de barriga

“O bebê dorme de 15 a 20 horas na primeira semana, dorme praticamente o dia inteiro, é normal” - alertou -  “alguns bebês ficam dias sem evacuar. Não tem problema.  Quando o bebê chora sente um desconforto – pode ser sede, fome, frio, fralda molhada, roupa apertada, necessidade de aconchego ou dor de barriga. Elas podem durar até seis meses. Costumam vir entre 18 e 22h. Ele fica vermelhinho e encolhe as perninhas.  Causas mais comuns: pega errada no peito, leite artificial concentrado, a pouca maturação intestinal, a ansiedade da mãe, ele capta. O que fazer? Massagens na barriga, bolsa de água quente ajudam. É comum bebê espirrar, nariz entupir, é como se fosse uma adaptação ao ambiente. Estava  em um ambiente líquido e sai para o ar”.

Contatos da Dra. Soraya – sorayanog@yahoo.com.br Telefone: 3227.0128

Segurança para as pacientes

 Júnia Bessa é cliente da Dra. Avelina Sanches e participou de todas as palestras do semestre e, nesta última, com a barriga já caidinha e completando 40 semanas, fez questão de comparecer. “Foi ótimo, uma preparação para o nascimento, dá uma confiança na gente de ser mãe”. O marido, Cristiano comentou sobre o curso: “É momento da gente se fortalecer, de ver outros relatos das mães; de ver esta fundamentação de saber científico associado com a participação humanitária do pai”, comentou Cristiano.

Júnia e Cristiano são circenses. Participaram ativamente de todas as palestras do Núcleo

Geórgia Borges, paciente de Dr. Marco Aurélio, com 37 semanas, espera o Thomáz e fez uma avaliação do curso: “primeiramente, é tranqüilizador perceber que tem uma equipe fortalecida, tanto em vínculo como em formação. O que ele me dizia no consultório, confirmou aqui. Mostra uma integração muito forte dos profissionais fortalece nestes momentos de expectativa. Recebi muitas informações, estou me sentindo segura e acolhida”.

Iara Ribeiro carrega na sua biografia uma informação interessante. Nasceu de parto de cócoras na primeira Casa de Parto de Cócoras do Brasil, em Curitiba, na clínica de Dr. Moysés Parcionick. Agora, grávida, procurou o Dr. Marco Aurélio e passou a  assistir sistematicamente o curso ao lado do marido, Adriano Vilhena. “Achei ótimo, esclarecedor, dá segurança. A gente se sente mais próxima da equipe, porque pode precisar de outro médico, bom conhecer todo mundo. Pode acontecer de ter dois partos ao mesmo tempo”, lembrou.

A HORA P – HORA DO IMPREVISÍVEL

 “A história é escrita por cada um de vocês. E varia. Alguns manifestam desejo de um parto na água e acaba acontecendo de forma convencional. O parto é imprevisibilidade, a gente não tem controle, estamos expostos ao imprevisível”.

Dr. Renato Janone explicou, didaticamente, todo o processo do parto: “A Hora P acontece em quatro fases: primeiro, a fase latente, é lenta, arrastada, pode ir de 14 a 20 horas; segundo, a fase ativa, de 6 a 14 horas; o período de expulsão, de 1 a 3 horas e a dequitação (saída da placenta), de 10 a 50 minutos.  Trabalho de parto é contração rítmica e regular.  Quando  encurta e fica mais intensa a contração, você sabe que está começando o trabalho de parto.  O motor é a contração. Não tem como ter bola de cristal, tem que  acompanhar”.

Observa que “a dor é muito pessoal. Quando o bebê chega à rota de chegada, começa o processo de rotação e descida do bebê. A anestesia peridural influencia na fase ativa e no período expulsivo. Às vezes é benéfica, mas pode também prolongar o trabalho de parto. O parto chamado normal não é tão normal assim, é medicalizado com ocitocina, anestesia; uma cascata de procedimentos para o parto andar mais rápido”.

Um pouco da história

Dr. Renato contou um  pouco a história do nascimento. Remontou à escola a 1.800: “Não tinha cesárea, morria todo mundo. O fórceps foi inventado em 1750, era coisa de rico. Foi um divisor de águas. Para passar fórceps, a mulher passou a adotar a posição deitada, de litotomia. Disse que a igreja também influenciou  na mudança da posição de parir. “Ela se baseia no criacionismo. Parir de cócoras era relacionado à condição animal e remetia a teoria da evolução”.

Alívio à dor

A  água é um método não farmacológico de alívio às dores do parto usado pelos médicos na assistência aos partos. Elas podem usar o chuveiro ou uma banheira. Renato Janone chamou o método de ‘aquadural’ , “funciona como uma anestesia peridural, relaxa a mulher, deve estar numa temperatura de   36,5 graus para evitar choque térmico para o bebê”. Posições indicadas:  de cócoras, quatro apoios, na lateral, semi-sentada: “as posições verticalizadas facilitam o parto. Litotomia é completamente anti-fisiológica. De cócoras, amplia a bacia, é facilitadora”.

Dúvidas

Não dilatou?

“Acontece. O que se vê é a banalização dos nascimentos. ‘Você não tem passagem’. Dá vontade de comprar a passagem. ‘Meu bebê não encaixou’. Acontece, mas só se define isto depois de 7 cm, em franco trabalho de parto. Há pacientes que não evoluem mesmo com manobras, nesta situação , cesárea é a opção”.

Episiotomia  

Em algumas situações é benéfica, razoável é um índice de 20%. Laceração é melhor para o paciente; O que pesa é o tamanho do bebê. Massagens, alongamento perineal ajudam. Na banheira ocorre  menos a intervenção”

Cordão enrolado no pescoço

“Não indicação para cesárea. Muito freqüente, mas é normal. Canso de receber laudos indicando a  presença de circular de cordão – 30% dos bebês nascem com circular de cordão.

Em Belo Horizonte

Como é a situação em Belo Horizonte?

Suíte ppp da Maternidade Santa Fé

 “O  Hospital Mater Dei não tem ppp (onde a mulher fica no pré-parto, parto e pós-parto), Nele, usamos uma banheira inflável e fazemos o parto no apartamento. O Hospital Otaviano Neves não dispõe de quarto ppp. A Maternidade Santa Fé tem uma suíte ppp, com ar condicionado, TV de LED; e  cobra uma taxa pelo seu uso. O HMDU – Hospital Dia da Unimed conta com duas suítes com banheiro e  não cobra taxas; há o risco de não ter vagas”.

“Em qualquer lugar tentamos criar uma ambiência favorável, com diminuição da luz, menos barulho, com música. Recomendamos, também, a presença da doula”. Ressaltou que há dois anos  Belo Horizonte não tinha estas opções. Estamos avançando”.

 

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