Relatos de parto

BERNARDO

Anna Karina & Norton

É possível sentir saudade do próprio parto? Já tinha ouvido falar sobre sentir saudade da barriga, vivi isso após minha primeira gestação, mas saudade do parto não. Pode soar estranho para muitas pessoas, afinal trata-se de um momento no qual a dor e o sofrimento comumente são protagonistas, mas é isso, olho para o Bernardo e sinto saudade do meu parto. Não, minha intenção não é romantizar esse momento nem ignorar as dores das contrações que são inexplicáveis. Mas o parto do Bernardo foi um marco na minha vida. O que vivi naquela madrugada de 15 de maio está tatuado na minha alma, carimbado no meu passaporte da vida. Bom, vamos lá!

Bernardo nasceu com 41 semanas e 3 dias, no dia 15 de maio, às 2h34, com 4.135g, 52 cm, por meio de parto natural no banquinho de parto na sala de PPP do Materdei. Chegamos no hospital 23h30 e apenas 3h depois já estava com meu bebê agarradinho à mim.

Sou mãe de segunda viagem, meu primeiro parto foi normal, porém com uso de analgesia. Tive a Laura com 39 semanas e 4 dias há 5 anos atrás. Como se trata do segundo, inevitável compararmos, mas posso dizer com convicção que assim como os dedos das mãos não são iguais, os partos também não serão.

Há praticamente 5 meses eu vivi o momento mais difícil da minha, a perda da minha mãe e o terceiro momento mais feliz da minha vida (o primeiro meu casamento, o segundo a chegada da Laura). Meu pequeno grande urso passou por momentos muito difíceis comigo nos últimos meses. O Dr. Sandro além de obstetra foi meu psicólogo e amigo. Obstetra é assim né, acabamos o considerando praticamente da família. Se eu posso dar um conselho para alguma grávida ou algum casal que pretende ter filhos é que procurem um médico com o qual se identifiquem, confiem e que esteja disponível para sanar todas as suas dúvidas.

Acordei diferente naquele dia 14, era uma terça-feira. Passei a manhã mais reservada, introspectiva, rezei pela minha mãe. A tarde resolvi que iria comprar pão de sal para o café, mas na verdade eu queria me movimentar. Meu marido me olhou e perguntou se eu tinha certeza. Ele estava trabalhando de homeoffice já aguardando que algo acontecesse a qualquer momento. Lá fui eu, fazer uma caminhada de 5 quarteirões até o supermercado. Voltei mais cansada que o habitual, tomei café e comecei a me arrumar para a missa que havíamos marcado em intenção da minha mãe. Antes da missa, recebi um whatsapp do Dr.Sandro, marcando para o dia seguinte um exame. “Anna, amanhã estarei no Santa Fé. Vá até lá, irei fazer a cardiotocografia (que eu não tinha conseguido fazer no materdei dias atrás) para avaliarmos o bebê, caso seja necessária a indução do parto. Passei a missa buscando me acomodar no banco, meio inquieta, hora pela emoção do momento, ora por um incomodo físico na lombar.

Sai da missa, fui para casa dos meus pais, minhas tias do interior ficaram me olhando e falaram: “Karina, como está o seu umbigo? Você está diferente!” Fui ao banheiro e pronto, o tampão saiu. Mandei aquela foto nada bonita para Dr. Sandro e falei que achava que iria vê-lo antes do previsto. As contrações leves iniciaram, já em casa, e entre uma contração e outra, contei história para minha menininha, despedi dela já dormindo. Naquele momento eu já sabia que ela acordaria com status de irmã mais velha. Acionamos a minha tia que ficaria com ela e combinamos de encontrar o Dr. Sandro às 23h30 no hospital.

Ao chegar no Materdei Dr. Sandro já estava lá e após a avaliação, para minha surpresa eu já estava com 6 cm de dilatação (no parto da Laura, com 6 cm pedi analgesia). A bolsa ainda não havia rompido e procedemos com a internação. Escolhi para estarem comigo meu marido e minha irmã que atuou como “doula leiga”. Ultrapassadas todas as burocracias e liberação do quarto, decidi entrar na banheira, usar a bola e tentar lembrar das orientações que havia recebido da minha fisioterapeuta. A água quentinha para mim foi ótima até certo momento. A sauna que se formou no quarto me incomodou e resolvi que iria para a bola. Os movimentos na bola e as benditas mãos do meu marido e da minha irmã devidamente posicionadas nas minhas costas me fizeram permanecer ali por mais alguns minutos.

Como já haviam passado duas horas da minha chegada, fui para maca para nova avaliação. Neste momento a bolsa rompeu, uma contração super forte veio e imediatamente respondi fazendo força. Neste momento Dr. Sandro falou: “mais umas duas desta, Bernardo nasce”. E ai, como deseja continuar?” Ponderamos o uso de analgesia naquele momento, mas resolvi tentar prosseguir sem, e pedi ajuda para ir para o banco de parto. Já no banco depois de algumas poucas forças meu menino veio para mim, para o meu colo. Que emoção! Sei lá, é como se fóssemos para um mundo paralelo no qual nada existe a não ser você, o bebê e um sentimento de “NÃO ACREDITO QUE CONSEGUI”! É REAL??? SERIA A TAL PARTOLÂNDIA? Dor? Não existe mais. O papai, além de ter participado ativamente também teve um momento só seu, o corte do cordão. Não sei o Dr. Sandro, mas Norton e Dani, meus “doulos”, saíram de lá parecendo que tinham corrido uma maratona.  Não planejei ter parto natural, simplesmente aconteceu. O sentimento que eu tenho é que eu precisava passar por aquele momento completamente lúcida, dona de mim, para que uma força que nem eu mesma sabia que tinha viesse e me tornasse a mulher, filha, esposa, mãe que sou hoje!