Relatos de parto

Teo

Isabela & Rafael

A lua estava cheia e reluzente quando chegamos a BH na expectativa do Teo nascer durante o feriado. Assim também ela estava no acampamento que fizemos anteriormente à sua concepção, bem como na noite que tive certeza dessa gravidez.  Meu guri esperou todos voltarem para as suas rotinas e me fez relembrar da cumplicidade entre mãe e bebê nas madrugadas. Nessa noite eu acordei várias vezes para urinar e na consulta matinal com a Dra. Avelina, percebeu-se o colo do útero já bastante pressionado pela cabecinha do meu bebê.

Retornei para o apartamento e arrumei as malas pois sabia que Teo nasceria em breve. Desmarquei meus pacientes on-line e tive a chance de fazer a sessão de análise que estava agendada para aquela tarde. Nós duas contávamos juntas os intervalos das contrações enquanto eu contava e recontava meus fantasmas. Minha amiga Bianca chegou após a sessão e ficou comigo até meu marido chegar, no fim da tarde, após concluir o atendimento dos pacientes que já o aguardavam na sala de espera.

Consultamos novamente com a Dra. Avelina e relatei estar sentindo contrações um pouco mais ritmadas. Ela me sugeriu caminhar com o Rafa para ajudar o corpo nesse processo, já que a dilatação permanecia a mesma da consulta matinal. Tive a sorte de fazer dois passeios muito especiais no trabalho de parto latente e sei que isso contribuiu para a chegada serena do Teo. Vi as luzes de Natal da Praça da Liberdade, caminhando de mãos dadas com meu marido e comendo pipoca de carrinho doce com salgada, e visitei à exposição que estava em cartaz no CCBB. Nessa visitação a minha bolsa rompeu (eu já estava com absorvente por prevenção) e eu comecei a executar os exercícios da fisioterapia de períneo para ajudar o bebê a encaixar corretamente. De lá tomamos um longo e demorado banho para encontramos com a Dra. Avelina no hospital.

Fui internada por volta de 00:30 e até as 2horas da madrugada o clima na suíte PPP era de descontração, leveza e harmonia. Quando as contrações começaram a apertar eu pedi anestesia. Meu marido disse para eu insistir um pouco mais, pois ele sabia que eu dava conta.

Aqui vale um breve recorte sobre o parto da Pietra vivido há 6 anos. Eu não reconhecia a intuição materna e não soube observar os sinais do meu corpo, além de não ter optado por ficar em BH por volta das 40 semanas. Fui para o hospital de supetão, não me preparei para a chegada da Pietra como pude fazer com o Teo. Senti muito mais dores ainda no início das contrações, pois estava viajando de uma cidade para a outra. Eu cheguei aos 10 cm de dilatação aproximadamente 3h depois da bolsa rota, mas minha filha não conseguiu sair do útero. Mesmo assim eu insisti até a exaustão, sem pedir anestesia. O dia começou a raiar e depois de não termos tido sucesso na tentativa de algumas manobras para ajudá-la, partimos para a cesárea na companhia do Dr. Sandro. Pietra nasceu de cesárea humanizada. Dra. Avelina solicitou à equipe baixar a luz do bloco e aumentar o som da música porque minha bebê iria chegar. Além de mostrá-la rapidinho a mim sobre o lençol que nos separava, assim que a pegou, dizendo: “veja, ela é muito cabeludinha e já vai ficar com você”. Esses detalhes eternizam com poesia o momento do nascimento!

Relatei isso para esclarecer porque o Rafa disse para eu tentar mais um pouco. E assim fizemos até eu entrar na banheira e começar a ter contrações muito intensas e sem intervalo, sentindo-me impossibilitada de prosseguir sem anestesia. Eu disse que dessa vez queria “natural”, o que provocou um discreto sorriso na Dra. Camila, fisgada pelo chiste do trocadilho espontâneo. O parto natural é sem nenhuma intervenção e eu pedia justamente a analgesia. É que eu queria dizer “naturalmente, do jeito que for para ser”. A experiência com a chegada da Pietra, não só do nascimento, mas de todo seu desenvolvimento, me ensinou a não permitir que os protocolos sobreponham o que meu coração me diz. A equipe escutou meu desejo e tudo fluiu. Acordei de um sono revigorante após a anestesia com 10cm de dilatação e comemoramos a não interrupção do trabalho de parto. Agradeci ainda mais emocionada pela chance de poder viver tudo de novo, já que no ano anterior eu elaborara o luto de um bebê com 8 semanas. E voltei para o trabalho cheia de disposição.

Percebemos que o período expulsivo evoluiu melhor quando eu estava deitada na cama e por isso resolvemos experimentar também o banquinho. De fato, funcionou e eu pude tocar a cabecinha dele ainda dentro de mim. Isso me motivou a fazer mais e mais força. Até que eu o senti coroar e quando toquei sua cabecinha novamente, senti seu cabelinho. Atestar seu filho chegando ao mundo ao sair lentamente de dentro de você provoca uma emoção indescritível. Dra. Camila fazia fotos e ajudava a movimentar meu corpo. Dra. Avelina incentivava com seu olhar que transmite coragem mista de tranquilidade. Algumas técnicas de enfermagem estavam na porta curiosas e ansiosas pela chegada do Teo. Meu marido agarradinho em mim, permitindo com que eu sentisse seu cheiro, sua voz, sua respiração, e seus braços a me envolverem por trás. Até que em uma dessas forças eu senti um alívio entre as pernas, no mesmo instante que a expressão da Dra. Avelina mudou. Seu olho brilhou como se fosse a primeira vez que ela via um bebê nascer. Nesse instante eu compreendi que havia acontecido: meu filho nascera de parto normal e vinha direto para o meu colo, sem nem chorar. Teo ficou assim por alguns segundos, quietinho comigo enquanto eu me esbaldava de prazer e emoção em tê-lo comigo dessa forma. Dra. Avelina disse que eu merecia esse momento e nós sorrimos uma para a outra com o brilho dos olhos, comemorando o nascimento do Teo e nossa amizade.

 

Participar ativamente do parto como um fenômeno da natureza é sublime e recompensa todo o esforço. O parto normal dói sim, mas é suportável e passa rápido. Nos primeiros dias eu senti alguns desconfortos devido ao inchaço nas genitálias, que ocorre mesmo quando não há dilaceração do períneo, como foi meu caso. Mas nada disso se compara à dor e ao mal-estar da cesárea no pós-parto. Todavia, vale ressaltar que quando o bebê chega nos nossos braços, pouco importa como é que ele foi parar ali...   

 

Eis aí um breve resumo do relato do bem-nascido Teo, meu bebê arco íris que me mostrou de onde se vê a lua cheia lá de casa. Descobrimos juntos, na solidão das nossas madrugadas, que ela preluz como seu sorriso, em frente à varanda do seu quarto. Sinal de um bom presságio!