Relatos de parto

Mariana

Luciene & Julinei

Olá,

Meu nome é Luciene e gostaria de compartilhar com vocês a experiência que eu e meu marido tivemos com o parto de nossa filha, Mariana.

Somos de Sete Lagoas, cidade que fica a aproximadamente 70km de Belo Horizonte. Comecei fazendo meu pré-natal em Sete Lagoas, mas infelizmente, percebi que os médicos de lá não são adeptos do parto humanizado. A velha estrutura hospitalar e intervenções praticadas de forma rotineira na maioria dos hospitais do Brasil são feitas na única maternidade existente na cidade.

Quando eu estava com aproximadamente 19/20 semanas de gestação, fomos numa Feira de Gestante no Minascentro, e ao lado da Feira havia a Exposição Sentidos do Nascer. Lá assistimos ao filme “O Renascimento do Parto” e foi então que começamos a despertar para os tipos de parto que gostaríamos e suas indicações. Começamos a pesquisar muito sobre o assunto até que descobrimos a “ONG Bem Nascer” e numa Roda de Conversas conheci minha doula, a Vanessa Aveline, e a Cleise, que nos indicaram a equipe médica do Núcleo Bem Nascer.

A partir disso passei a fazer meu pré-natal com a Dra. Avelina Sanches. Quando cheguei a 37 semanas de gestação comecei a ficar bem ansiosa. Comecei a tomar chá de gengibre com abacaxi e canela, fazia caminhadas, exercícios na bola de pilates, hidroginástica, pensando mais em estimular o trabalho de parto ao invés de no relaxamento que isso poderia me proporcionar. Os dias foram se passando e nada. Eu coloquei na minha cabeça que a Mariana iria nascer no mês de julho, mas chegou o fim do mês e eu nada de sentir as contrações de trabalho de parto.

Ao completar 39 semanas fui numa consulta na Avelina e quando ela me disse que o colo do útero estava fechado confesso que fiquei bem chateada, comecei a chorar, pensando que não conseguiria ter a minha filha de parto natural. Ela, como sempre, muito atenciosa, me tranquilizou dizendo que estava tudo correndo bem, que não havia motivo para eu estar ansiosa.

O que eu pensava era que não iria conseguir ter minha filha de parto normal, apesar de ter me preparado tanto.  

Além disso, havia uma ansiedade gerada pela família, que ficava preocupada por termos que pegar estrada em pleno trabalho de parto. Mas nós sabíamos que no parto normal, como regra geral, demoram-se várias horas para se chegar no período expulsivo.

Lembro que mandei mensagem para a dra. Avelina falando que já estava com 39 semanas e 4 dias e nada do tampão mucoso sair, mas ela me tranquilizava dizendo que eu “ainda” estava com 39 semanas e que não havia motivo para ansiedade, que a hora certa iria chegar. Me orientou a continuar caminhando, namorando e estimulando o parto, mas sem estresse.

Eu também ligava para a minha doula Vanessa, e ela, da mesma forma, sempre me tranquilizava dizendo para eu ficar calma, que tudo tem seu tempo certo, que a dilatação iria ocorrer, mas que eu teria que esperar o momento certo.

A partir de então resolvi relaxar e confiar mais em Deus, mentalizando que o melhor para nós iria acontecer. Procurei me desligar um pouco da forma que eu havia idealizado para o nascimento da minha filha, se o parto seria na água ou não, de cesária ou de parto normal, e pedia a Deus que ela viesse com saúde e que corresse tudo bem, independente da forma como fosse o parto.

Com 40 semanas e 1 dia de gestação, numa quarta-feira, fui em consulta com a Avelina. Fiquei muito feliz quando ela me disse que eu estava com 1cm de dilatação! Sentia algumas cólicas, mas nada muito forte. Depois da consulta fiz um ultrassom e estava tudo bem com a bebê. Isso me deu a certeza de que poderia esperar até 41 semanas para tomar alguma decisão sobre a possibilidade de indução do parto.  Nesse dia a Dra. Avelina nos sugeriu fazer as terapias complementares do hospital Sofia Feldman, onde havia escalda pés, massagens, moxa, acupuntura. Fiquei animada. Iríamos lá na sexta-feira.

Na quinta-feira, depois de uma caminhada vigorosa que fiz à tarde comecei a sentir contrações mais fortes. Não conseguia dormir. Mas também não sabia se aquilo era o início do trabalho de parto porque não estava sentindo aquela dor insuportável que dizem...mas uma contração que ia e voltava pressionando minha pelve.

Quando deu 1h da manhã as dores intensificaram. Meu marido resolveu ligar para a Avelina, que nos orientou a ir para a Maternidade. Saímos de Sete Lagoas aproximadamente 1h30 da manhã. A estrada estava muito tranquila, mas a dor só aumentava, as contrações, a essa altura, estavam vindo a cada 3 ou 4 minutos.

Chegamos na Maternidade Santa Fé. Dra. Avelina me examinou e tive a boa surpresa quando ela me disse que estava com 3 para 4 cm de dilatação. A dor já estava forte demais e eu teria que chegar a 10 cm de dilatação. Nossa, será que vou conseguir? Pensei.

Fomos para a suíte de parto. Lá chegando eu fiquei debaixo do chuveiro, deixando a água quente cair em minha barriga, o que me ajudou a relaxar um pouco. Quando vinha a contração não conseguia nem falar, tamanha era a dor que começava no alto da barriga e irradiava para as costas e a pelve. O que me tranquilizava era saber que essa dor era necessária para que eu pudesse ter minha filha em meus braços. Então tentei enxergar a dor como minha aliada. Mas não foi fácil...

Passados pouco tempo a minha doula chegou ao hospital. Foi muito bom porque ela começou a me fazer massagens e isso me ajudava muito a relaxar.

A Dra. Avelina, de hora em hora, auscultava os batimentos cardíacos da Mariana.

Meu marido colocou para tocar as músicas que ouvi na gestação. Mas naquela hora eu nem prestava atenção na música. O barulho interno e a dor que sentia naquele momento falavam muito mais alto. Estava mesmo dentro da “partolândia” que todos diziam, meio que em transe...

E as horas foram passando. Fiz exercícios na bola de pilates, agachamentos na barra, subi e desci dois andares de escadas no hospital, entrei e saí da banheira algumas vezes, com a Vanessa sempre ao meu lado.

Em vários momentos pensei que não iria aguentar. Mas o meu marido, dra. Avelina e a Vanessa me incentivavam, falando que eu iria conseguir. Quando eu falava que a dor estava demais, que eu estava no meu limite, eles me diziam que eu era forte, que iria conseguir, que estava quase na hora, que faltava pouco...

O tempo foi passando e eu estava tão relaxada dentro da banheira que as contrações começaram a ficar mais espaçadas e isso estava postergando o parto.

Foi então que meu marido sugeriu que eu mudasse de posição. Mudei de posição e fiquei na posição de Gaskin e foi aí que senti que o trabalho de parto foi evoluindo cada vez mais. A partir daquele momento percebi que faltava muito pouco para a Mariana nascer. Conseguia fazer mais força quando vinham as contrações. Comecei a sentir ela descendo. De repente senti uma ardência, uma queimação muito forte, e continuei fazendo força, a minha bebê estava coroando. Senti a sua cabecinha, os seus cabelinhos, ela estava vindo...Às 2h35min a Mariana nasceu e veio direto para os meus braços. Meu marido, que ficou comigo o tempo todo, falava várias vezes, cheio de emoção: ela é linda Lu!

A primeira coisa que fiz foi agradecer a Deus pelo maravilhoso presente que acabávamos de receber.

Mariana ficou quietinha em meu colo; percebi que a experiência também havia sido muito intensa para ela também, nós duas estávamos exaustas, mas nós havíamos conseguido!

Não me aplicaram analgesia. Não fui submetida a episiotomia. Não foi feita nenhuma intervenção desnecessária. Fui tratada com muito respeito e carinho.

Mariana nasceu na banheira, na água, da forma como imaginei. Não foi na hora que eu quis, mas sim no momento ideal para ela, quando ela estava pronta para nascer ela veio ao mundo.

Esse foi o dia mais emocionante e lindo de minha vida. Foi a experiência mais intensa e enriquecedora que me foi concedida. Nesse dia, o dia em que minha filha nasceu, eu também renasci como pessoa.  

Hoje me sinto mais forte e capaz de realizar coisas que eu achava que não dava conta. Sei que a maternidade vai me proporcionar muitos outros desafios.  Mas esse era o início, o grande momento do parto foi fundamental para minha transformação, dia em que guardarei felizes lembranças.

Agradeço a Deus pelo milagre da vida, por ter sido tão abençoada em toda minha gestação e no parto; ao meu marido, meu companheiro, que sempre está do meu lado e na gestação não foi diferente, esteve comigo durante essas 40 semanas e 3 dias, me dando apoio, indo comigo em todas as consultas de pré-natal, fisioterapias, cursos, palestras, colaborando para que nossa gravidez transcorresse de forma tranquila; à dra. Avelina, minha querida obstetra, e à minha querida doula, Vanessa Aveline, por todo carinho e cuidado que tiveram comigo durante a gestação e principalmente no dia do parto.