Parto humanizado na rede hospitalar

08/02/2015
Autor: 
Marco Aurélio Valadares

"A partir do século XVI, os partos no Ocidente começaram a ser mais seguros para a mulher e seu filho, porém tornaram-se menos humanizados. Os partos deixaram de ser realizados nos domicílios e foram transferidos para os hospitais, com as mulheres em posição e litotomia (deitadas).

As altas taxas de mortes maternas e perinatais, como conseqüências de partos realizados em casa, em um ambiente familiar e humano, mas sem a segurança necessária, justificaram o translado da mulher para as maternidades.

O atendimento dos partos em ambiente hospitalar teve como conseqüência  a idéia  de que as mulheres nessas condições deveriam ser consideradas como doentes ou passíveis de adoecerem.  Todo doente que está em um ambiente hospitalar  ou maternidade deve permanecer deitado e, mais modernamente, com soro na veia.

O fator determinante fica sendo não o bebe que vai nascer e a mulher que vai dar à luz, mas a estrutura e a organização da instituição, as quais ambos têm de se adequar ou submeter.

Michel Odent, obstetra francês, diz que o parto é conduzido através da parte mais primitiva do cérebro, o hipotálamo, que secreta os hormônios responsáveis pela sua evolução, principalmente a ocitocina.  A parte mais desenvolvida do cérebro é o neocórtex, correspondente ao  ntelecto. Assim, quando durante o parto há inibições, elas têm origem no neocórtex. A mulher em trabalho de parto tem que se proteger de toda e qualquer estimulação neocortical inútil, ficando em contato com a parte mais primitiva do cérebro, que facilita as reações instintivas.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) tem recomendações para o parto hospitalar, com vistas a evitar as práticas que perturbam a boa evolução do parto e não trazem benefícios para a mãe a criança. Em alguns países, as mulheres podem optar por um parto domiciliar ou mesmo hospitalar, em um ambiente acolhedor que aproxima do doméstico, com apoio de familiares e do marido. É o caso das casas de parto. Esse ambiente acolhedor também deve ser adotado depois do parto, evitando um trauma na separação da criança da mãe. Mesmo no caso de uma cesárea, essa separação mãe/filho pode ser amenizada. São importantes o contato de pele da mãe e do nenê, o sentido do cheiro materno e os olhos nos olhos. Temos que ter uma visão da gravidez e do parto como períodos de extrema importância, considerando o que isso vai significar para essa criança por toda sua vida e para o vínculo familiar que se constitui a partir daí.

Michel Odent questiona qual a conseqüência da maneira com que nascemos em nossa vida. Ele considera tipo de parto que nos trouxe ao mundo pode  ter conseqüências a longo prazo, sobretudo na  área da sociabilidade, da agressividade e na capacidade de amar os outros e a si mesmos.

Temos que considerar o axioma médico : Primum non nocere (antes de tudo, não prejudicar), isto é, não dar remédio pior que a doença. Procedimentos cirúrgicos de grande porte como a cesárea, pelo sua complexidade, devem ser realizados para prevenir ou corrigir patologias, e não para aperfeiçoar a fisiologia, segundo Treffers, professor holandês."

 

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